sábado, 4 de janeiro de 2014

O casamento

Poucos dias após a morte da mãe de Justine, realizou-se a cerimônia de casamento. Os convidados não eram muitos mas chamaram a atenção da moça. Onde estariam os convidados de seu noivo?
O mercador tirou-lhe a dúvida. Não tinha parentes e seus contatos eram apenas com os clientes de seu pai. Sua mãe, com quem morava em uma cidade próxima à Marseille não participava de festas. Justine a conheceria logo após o casamento e com ela viveria na fazenda da família. A moça temeu.
Chegaram na fazenda alguns dias depois do casamento. Justine entrou na sala de sua nova casa. A fazenda era alta e os móveis rústicos e de bom gosto. Afeiçoou-se por aquele lugar.  A sala possuía muitas portas. De uma delas saiu uma jovem senhora negra, com olhos verdes brilhantes. Aproximou-se do casal,  abençoou o filho com palavras ditas em língua iorubá.
O rapaz recebeu a benção e disse:
_ Eis aqui minha esposa, Justine!
A jovem senhora colocou-se diante da moça. Fixou seu olhar nos olhos de Justine com semblante de seriedade. Tocou a pele da moça e proferiu uma benção. Justine sorriu. A jovem senhora também sorriu.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Justine

O mercador de Marseille

     Alguém bateu firmemente a porta da casa amarela naquela manhã de outubro. Justine abriu. Seus pais não permitiam que isto acontecesse mas naquela manhã foi necessário. A mãe estava com uma febre muito alta e o pai tentava com panos úmidos reduzir sua temperatura. 
     A moça de quatorze anos tocou levemente a fechadura, abrindo a porta com delicadeza. Seu pai esperava o mercador de Marseille. Havia encomendado tecidos diversos que eram pedidos de sua clientela. 
     A moça abaixou os olhos. O mercador perguntou por seu pai. A mão de Justine permaneceu colada à porta. Parecia não respirar nem mesmo ouvir. Com delicadeza o rapaz ergueu sua mão e tocou o rosto da menina. Os olhos de Justine encontraram o mercador. Viajaram nos olhos um do outro até que a moça decidiu chamar seu pai. O pai entrou na sala e com um sinal pediu que a moça se retirasse. Justine foi para o quarto acompanhar a mãe. 
      Era muito jovem o mercador, parecia não ter mais de vinte anos. Assumira o lugar do pai, falecido a pouco, nos negócios da família. Tinha uma pele morena e cabelos ondulados, olhos esverdeados iluminavam seu rosto. Uma mistura do pai francês com a mãe iorubá.
     _ Trouxe minha encomenda?
     _ Estão aqui.
     _ Agradeço e sinto muito pela perda de seu pai.
     _ Desejo casar-me com a moça que esteve nesta sala.
     A ira dominou o rosto do comprador. Em um surto de raiva colocou o rapaz para fora de sua casa mas ao fechar a porta ouviu os dizeres:
     _ Amanhã voltarei para ter sua resposta.

     O pai pisou no quarto com o semblante tenso pelo que acabara de ouvir. A mãe, deitada em sua cama, parecia não melhorar. O pai olhou para Justine e ordenou que saísse dali. A menina foi. 
     A febre da mãe aumentava e por alguns momentos ela abria os olhos e balbuciava algumas palavras sem sentido. Em um de seus delírios pediu ao marido que casasse Justine. Respirou com dificuldade mais algumas vezes. Não respirou mais.
       O pai chamou Justine e sem qualquer expressão no rosto, diante do corpo de sua esposa, declarou:
     _ Casará-se com o mercador de Marseille.